Nas últimas duas décadas, perante as crescentes preocupações governamentais e dos consumidores em torno do impacto provocado pelo desperdício de embalagens, as grandes marcas globais intensificaram os compromissos com a sustentabilidade, juntamente com novos regulamentos que obrigaram a alterações nos designs das embalagens dos produtos.
Mais recentemente, a UE introduziu novas regras para ajudar a travar o excesso de desperdício de embalagens, centrando os seus esforços em incentivar as empresas a explorar opções de embalagens reutilizáveis, limitar o excesso de embalagem e os espaços vazios, e apresentar etiquetas claras que favoreçam uma reciclagem correta.
Contudo, foi sugerido que alguns destes novos requisitos de embalagens seriam mais adequados para produtos vendidos em lojas de retalho e que seriam pouco significativos no apoio à criação de embalagens sustentáveis para produtos comprados online.
Neste artigo, iremos realçar as complexidades em torno do design de embalagens sustentáveis para comércio eletrónico e disponibilizar algumas dicas essenciais para ajudar as marcas a analisar os novos regulamentos e a limitar o impacto ambiental das suas embalagens para comércio eletrónico.
O panorama das embalagens para comércio eletrónico
O comércio eletrónico representa uma fatia enorme do retalho global, com vendas de aproximadamente de 5,2 biliões de dólares americanos em 2021, com uma previsão de crescimento de 56% até 2026, atingindo os 8,1 biliões[i].
Em 2021, o comércio eletrónico foi responsável por 159 mil milhões de envios a nível global[ii]. Apesar de o comércio eletrónico ter crescido, o mesmo se verificou com o desperdício associado aos envios, normalmente composto por embalagens de utilização única que o consumidor final pode não reciclar.
Porém, as partes interessadas da indústria de embalagens europeia, incluindo a consultora NOA e a Federação Europeia de Fabricantes de Cartão Canelado (FEFCO), sugerem que a contribuição do comércio eletrónico para o desperdício de embalagens pode ser exagerada porque é mais visível para o consumidor final. O comércio eletrónico representa apenas 7% do mercado de canelados na Europa[iii], com a grande maioria de canelados a serem usados em envios a granel.
As alterações designadas à Diretiva da UE relativa a embalagens e resíduos de embalagens visam especificamente o comércio eletrónico, apesar de praticamente não levarem em consideração as complexidades das cadeias de abastecimento do comércio eletrónico. Com efeito, a introdução de metas de reutilização para o comércio eletrónico (20% até 2030, com um aumento para 80% até 2040) poderá afetar diretamente os requisitos para reduzir os espaços vazios e minimizar o excesso de embalagens.
Descubra a diferença entre embalagens para retalho e embalagens para comércio eletrónico aqui.
Embalagens reutilizáveis no comércio eletrónico
Uma caixa de plástico reutilizável pode utilizar 20 a 30 vezes mais material do que uma caixa canelada de utilização única e só criará menos desperdício se a sua reutilização ocorrer muito além do seu "ponto de equilíbrio" (break-even). As embalagens reutilizáveis devem ser suficientemente robustas para suportar a reutilização ao longo do tempo e integrarem um sistema de reutilização que promova alterações no comportamento dos consumidores.
As complexidades associadas à facilitação da devolução de embalagens no comércio eletrónico pode tornar mais problemático o envolvimento dos consumidores.
Os modelos de reutilização que obriguem o consumidor a "devolver à loja" podem ser mais fáceis de conseguir se os consumidores frequentarem presencialmente uma loja física como parte da sua rotina semanal. No comércio eletrónico, em que os consumidores desfrutam da comodidade de ter os artigos entregues às suas portas, o requisito de devolver os artigos por correio ou fisicamente torna menos provável a sua utilização para além do ponto de equilíbrio. O cenário torna-se mais complexo a partir do momento em que é levada em consideração a pegada de carbono associada ao transporte de embalagens reutilizáveis para comércio eletrónico.
Em 2022, a FEFCO encomendou três estudos científicos que compararam a embalagem reciclável e a reutilizável, incluindo uma análise "hot-spot" da cadeia de valor do comércio eletrónico. Os resultados sugeriram que, em muitos casos, as embalagens recicladas podem ser mais sustentáveis do que as opções reutilizáveis.
Em comentário aos estudos, Eleni Despotou, diretora-geral da FEFCO, destacou que "expressar uma clara preferência pelas embalagens reutilizáveis em detrimento das embalagens recicláveis é uma abordagem muito limitada" e que, acima de tudo, "as propostas legislativas têm de garantir que qualquer embalagem colocada no mercado da UE é "adequada ao seu propósito", ecológica, cumpre a sua finalidade e evita o desperdício desnecessário, que é o objetivo final dos legisladores".
Em outubro de 2023, a Confederação das Indústrias do Papel (CPI) apelou ao Parlamento Europeu para apoiar a isenção continuada das embalagens de cartão na diretiva revista da UE relativa a embalagens e resíduos de embalagens. A CPI propôs que as isenções "reconheçam a sustentabilidade" das embalagens de cartão, e que a reposição da isenção iria afastar a diretiva de uma abordagem "única" às embalagens[iv]. Em novembro de 2023, o Parlamento Europeu votou no sentido de permitir a isenção dos países da UE das metas de reutilização para 2030, no que respeita a materiais com taxas de reciclagem superiores a 85%[v].
Dicas para criar embalagens mais sustentáveis para o comércio eletrónico
Desta forma, como podem as marcas criar embalagens para comércio eletrónico "adequadas ao seu propósito"?
Apesar de a fatia mais significativa das emissões de carbono no comércio eletrónico advir das próprias embalagens (45%), o envio e as devoluções representam 13% e 25%, respetivamente[vi]. Um dos focos principais para o comércio eletrónico será reduzir o impacto das embalagens, facilitando simultaneamente envios e devoluções eficientes.
Utilize materiais amplamente recicláveis: As embalagens de papel e cartão são fáceis de reciclar e já beneficiam de taxas de reciclagem muito elevadas. Na UE, as taxas de reciclagem de embalagens de papel e cartão têm-se mantido consistentemente acima dos 80% desde 2008, tendo alcançado 81,6% em 2020. Ao utilizarem materiais recicláveis e ao incentivarem os consumidores a eliminar corretamente as suas embalagens, as marcas podem ajudar a aumentar este número.
Pense no consumidor final: As marcas podem identificar se a opção mais adequada é a reutilização ou a reciclagem, identificando de que forma os consumidores irão interagir mais provavelmente com a embalagem. Apesar de as embalagens recicláveis serem normalmente a melhor solução, existem modelos específicos em que as embalagens reutilizáveis podem ser mais adequadas, por exemplo, nos casos em que as elevadas taxas de devolução são essenciais para o serviço, nomeadamente entregas de caixas de refeições e modelos de leasing para vestuário ou brinquedos infantis.
Reduza materiais sem comprometer a proteção do produto: Redesenhar as embalagens para remover espaços vazios e reduzir os materiais irá eliminar o desperdício, permitindo também envios e logística mais eficientes. Considere soluções "criadas à medida" destinadas embalagens personalizadas para produtos e entregas. Personalizar cada embalagem para uma entrega específica ajudaria a reduzir os custos de transporte e os materiais de embalagens, garantindo simultaneamente que os artigos são embalados em segurança para evitar danos.
Otimize a rede de entregas: Otimizar os calendários de entregas e incentivar as recolhas poderá ajudar a reduzir as entregas individuais, incentivando os consumidores a "recolher" os produtos numa localização prática, como parte das suas rotinas diárias, por exemplo. De acordo com a UPS, mais de 90% das pessoas nos EUA estão a cerca de 8 quilómetros de um Ponto de Acesso UPS, onde podem recolher produtos em vez de os receberem em casa.
Crie embalagens para facilitar as devoluções: A Smithers identificou as devoluções como uma prioridade importante no futuro das embalagens sustentáveis para comércio eletrónico, realçando a importância da simplificação do processo de devoluções e da otimização da logística para os revendedores[vii]. As marcas devem pensar em desenvolver embalagens para facilitar as suas devoluções, incluindo a utilização de códigos QR para ajudar no processo, e embalagens que possam ser reutilizadas para devolver artigos.
Aproveite o potencial dos códigos 2D: Ao adicionar códigos de dados variáveis, incluindo códigos QR potenciados pela GS1, com a denominação anterior de ligação digital GS1, às embalagens dos produtos, as marcas podem facilitar uma maior partilha de dados nas cadeias de abastecimento de comércio eletrónico e identificar oportunidades para uma otimização sustentável. Os mesmos códigos podem ser usados como ponto de contacto do consumidor para reforçar os compromissos de sustentabilidade. Muitos consumidores são já adeptos da leitura de códigos 2D para obterem mais informações sobre um produto; os códigos com ligação digital GS1 podem "resolver-se" com base na geolocalização e no dispositivo utilizado para ler o código. Isso representa um enorme potencial para ajudar os consumidores a identificar os métodos de devolução, reutilização e reciclagem mais sustentáveis. Além disso, é também útil para fornecer às marcas provas das taxas de reciclagem e reutilização.
Trabalhe com fornecedores sustentáveis: Certifique-se de que apenas escolhe fornecedores e parceiros que partilhem o seu compromisso com a sustentabilidade.
Conclusão
Prevendo-se a trajetória de crescimento do comércio eletrónico, todos têm de fazer a sua parte para garantir que a indústria cresce de forma sustentável. O crescimento sustentável irá exigir que as marcas colaborem com todos, incluindo fabricantes de embalagens, fornecedores de soluções de codificação e marcação e parceiros globais de logística, mantendo-se ao corrente das atualizações atuais e futuras em matéria de legislação sobre embalagens.
Na qualidade de fornecedor global de soluções de codificação e marcação, a Domino compreende as complexidades envolvidas no desenvolvimento de embalagens para o comércio eletrónico, que sejam simultaneamente adequadas ao seu propósito e ecologicamente responsáveis. A Domino pode ainda fornecer informações valiosas sobre a possibilidade de as marcas criarem valor adicional através da codificação de dados variáveis com códigos 2D nas embalagens dos seus produtos.
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[i] Statista, 2020, https://www.statista.com/statistics/379046/worldwide-retail-e-commerce-sales/, acedido a 21 de novembro de 2023.
[ii] Pitney Bowes, 2021, https://www.pitneybowes.com/content/dam/pitneybowes/us/en/shipping-index/22-pbcs-04529-2021-global-parcel-shipping-index-ebook-web-002.pdf, acedido a 21 de maio de 2024.
[iii] https://www.linkedin.com/posts/fefco---european-federation-of-corrugated-board-manufacturers_corrugated-deliveron-activity-6985546300549136384-Bj5u/?trk=public_profile_like_view, acedido a 21 de novembro de 2023.
[iv] CPI, 2023, https://paper.org.uk/CPI/CPI/Content/News/Press-Releases/2023/EU-Reuse-Targets-for-Transport-Packaging.aspx, acedido a 6 de dezembro de 2023.
[v] Euractiv, 2023, https://www.euractiv.com/section/energy-environment/news/parliament-votes-to-water-down-eus-packaging-waste-law/, acedido a 6 de dezembro de 2023.
[vi] Statista, 2020, https://www.statista.com/statistics/1254302/ecommerce-average-emissions-by-source/, acedido a 7 de novembro de 2023.
[vii] Smithers, 2023, https://www.smithers.com/en-gb/services/market-reports/packaging/future-of-sustainable-e-commerce-packaging-to-2028. acedido a 20 de novembro de 2023.