A consciência histórica sugere que a resposta a problemas ambientais foi uma proposta falhada para os gestores de produção[i]. O foco incide na sustentabilidade, prejudicando os negócios, ou há uma concentração na produtividade em detrimento de preocupações ambientais. No entanto, a ecologia já não tem de sair cara para as empresas. A sustentabilidade pode ser catalisadora da redução de desperdício e de poupanças de custos, além do reforço da marca, da inovação e das oportunidades de mercado.
A Indústria 4.0 e as soluções inteligentes desempenham um papel fundamental para alcançar produtividade sustentável. No entanto, o investimento numa nova tecnologia sem uma garantia de retorno pode parecer arriscado, especialmente num momento de volatilidade da cadeia de abastecimento, instabilidade do mercado global e aumento dos custos.
Tal como refere Adem Kulauzovic, Diretor de Automatização na Domino Printing Sciences, a resposta pode estar na servitização: um modelo de apoio como um serviço e redução de risco que permite às organizações adotarem uma abordagem OPEX estratificada à Indústria 4.0 e as capacita a alcançarem resultados no âmbito da produtividade e sustentabilidade.
O mito: a sustentabilidade é inimiga da produtividade
Tradicionalmente, os aumentos de produtividade podem ter ocorrido às custas da sustentabilidade, com o maior número de resultados e o aumento da utilização de recursos a causar um impacto negativo no ambiente. De igual forma, quando a procura é elevada ou o foco incide sobre a produtividade, os projetos de sustentabilidade podem ser relegados para o fim da lista de um fabricante devido ao esforço e ao investimento que se considera que estes possam exigir. A nova corrente de pensamento afirma o contrário. A sustentabilidade e a produtividade não têm de se excluir mutuamente.
O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS da ONU) número 12 indica que a "Produção e consumo sustentáveis têm que ver com fazer mais e melhor com menos". É um objetivo adotado por muitas regiões de todo o mundo, com compromissos de muitos países para alcançarem zero emissões líquidas de carbono até 2050. Mesmo sem regulamentação, as empresas procuram melhorar as suas credenciais de sustentabilidade, impulsionadas por ativismo de investidores, clientes finais e trabalhadores.
Da perspetiva da produção, as empresas são mais sustentáveis quando as máquinas funcionam perfeitamente e os esforços se concentram na criação de produtos de elevada qualidade em vez de desperdício. Provavelmente, não há melhor caso em apreço do que a produção alimentar, com o sistema alimentar mundial a contribuir por si só para mais de um quarto das emissões de gases com efeito de estufa do mundo, dos quais 18% são diretamente atribuídos à cadeia de abastecimento alimentar. Quando um produto alimentar é desperdiçado, todas as emissões associadas envolvidas no cultivo, na criação e no processamento de todos os ingredientes em bruto basicamente não contam para nada.
No sentido de reduzirem o impacto geral da produção de alimentos, os fabricantes devem procurar otimizar os processos de produção de alimentos para afastarem as causas do desperdício e maximizarem a quantidade de produtos frescos e comercializáveis que permanecem na cadeia de abastecimento e chegam aos clientes finais. O mesmo acontece em qualquer ambiente de produção: o esforço e a energia colocados em processos ineficientes são, no final de contas, menos sustentáveis na perspetiva do negócio e do ambiente.
Melhorar a OEE com a Indústria 4.0
A ligação entre sustentabilidade e produtividade pode ser melhor ilustrada ao olhar para os três componentes principais que compõem uma das medidas de produtividade mais utilizadas do mundo, a eficiência global do equipamento (OEE): tempo de funcionamento, rendimento e qualidade.
O tempo de funcionamento é a diferença de tempo entre uma linha de produção a funcionar e a ser interrompida por qualquer motivo durante uma tiragem programada. Uma das causas mais comuns das paragens (ou tempo de inatividade) tem que ver com a troca de produtos: sempre que uma máquina é deixada a funcionar no modo inativo enquanto é feita a preparação para a tiragem seguinte. A otimização e automatização das trocas com a Indústria 4.0 e os sistemas inteligentes podem contribuir positivamente para a sustentabilidade e produtividade ao maximizarem o tempo que uma máquina é utilizada para produzir stock comercializável, minimizando simultaneamente o consumo desnecessário de energia durante o período de inatividade.
O rendimento é a relação entre a capacidade máxima e a capacidade real de uma linha de produção. As linhas de produção que não estão a funcionar com eficiência, por exemplo, devido a uma falha que abrandou uma máquina na linha, demorarão mais tempo a produzir o mesmo número de produtos comercializáveis e necessitarão de mais energia. Ao utilizarem soluções de monitorização de desempenho em tempo real, incluindo serviços baseados em cloud, os fabricantes podem monitorizar a produção e intervir ao primeiro sinal de redução do rendimento por forma a manterem as máquinas a funcionar com o máximo de eficiência possível.
A qualidade concentra-se em garantir que cada produto é produzido de acordo com um elevado standard comercializável e está invariavelmente ligada a verificações de qualidade. No caso específico de produtos alimentares, tal incluirá a qualidade dos próprios produtos, bem como a integridade das suas embalagens para otimização do prazo de validade e redução do desperdício associado ao transporte. Qualquer produto que chegue ao fim de um processo de produção e não seja comercializável tem de ser reprocessado (desperdiçando energia) ou descartado (desperdiçando energia e recursos), sendo ambas as situações inadequadas de uma perspetiva de negócio e de sustentabilidade. Os sistemas de inspeção de visão automatizados eliminam o risco de problemas de qualidade não identificados devido a erro humano e possibilitam uma verificação bem mais rigorosa das linhas de produtos, permitindo a intervenção à primeira oportunidade para mitigar o excesso de desperdício.
Além da redução do desperdício e da minimização dos recursos utilizados para criar stock comercializável, a aplicação de alterações graduais na OEE permitirá aos fabricantes desbloquearem poupanças em tempo e custos que, por sua vez, poderão ser reinvestidos em mais melhorias, inovações e esforços de sustentabilidade adicionais. Por exemplo, o investimento do tempo das equipas em formações como a Lean Six Sigma, ou a análise do impacto de uma nova forma de embalagens sustentáveis na linha de produção.
Reduzir o risco através da servitização
Embora todos os fabricantes gostassem de poder maximizar a OEE e reduzir o desperdício, para alguns, as despesas com novos equipamentos da Indústria 4.0 podem parecer implicar um risco demasiado elevado sem a garantia de retorno do investimento. Isto pode ser particularmente relevante para PME com despesas de capital limitadas e equipamentos antigos obsoletos, sobretudo devido às atuais circunstâncias socioeconómicas.
A servitização, em que os clientes pagam por um resultado ou serviço em vez de adquirirem diretamente os equipamentos, pode oferecer uma solução atrativa para este problema. De facto, a servitização começa a conquistar o reconhecimento internacional das organizações, incluindo o Fórum Económico Mundial, como um meio viável de aumentar a produtividade económica e contribuir positivamente para os esforços mundiais de descarbonização. Os fornecedores que oferecem soluções de produção integradas num modelo de servitização têm um claro interesse em garantir que estes produtos são mantidos a funcionar com eficiência e consistência ao longo do tempo, maximizando o desempenho ao mesmo tempo que o desperdício é minimizado.
Na Indústria 4.0, a servitização significa que os fabricantes trabalham com um parceiro que pode oferecer apoio como um serviço de acordo com os seus objetivos específicos, nomeadamente aumentar o tempo de funcionamento, o rendimento e/ou a qualidade. Um modelo deste tipo não só transfere o risco focado nos resultados para o fornecedor, como também ajuda com os custos, possibilitando a distribuição do investimento ao longo de um período num modelo OPEX, em vez de num modelo CAPEX.
Além disso, com contratos baseados em serviços, os clientes podem adotar uma abordagem LAER (land, adopt, expand, renew – obter, adotar, expandir, renovar) para o seu investimento. Isto possibilita mudança e flexibilidade quando os resultados ou objetivos mudam, permanecendo simultaneamente na vanguarda da inovação, com acesso a tecnologia nova à medida que vai ficando disponível.
O valor da servitização no apoio de uma produtividade sustentável é inegável, embora seja ainda inicial enquanto modelo de apoio como um serviço. A Domino orgulha-se de fazer parte de um projeto de investigação de três anos no valor de 1,8 milhões de libras, que está atualmente a ser levado a cabo pelo Advanced Services Group da Aston Business School em nome do Economic and Social Research Council britânico. A investigação tem como objetivos confirmar evidências dos impactos da servitização na produtividade económica e no desempenho ambiental (ou seja, zero emissões e economia verde) e utilizar estes conhecimentos para influenciar políticas e práticas industriais no Reino Unido.
Conclusão
A sustentabilidade e a produtividade podem trabalhar em conjunto. No entanto, para obterem ganhos reais e a longo prazo no âmbito da sustentabilidade, as empresas têm de ter as pessoas certas focadas em processos fundamentais para as operações de produção atuais, bem como pessoas focadas na inovação do futuro. Um parceiro de apoio como um serviço da Indústria 4.0, que pode ajudar a garantir OEE, significará mais produtividade, menos desperdício e mais tempo para os seus colaboradores investirem no próximo passo do percurso de sustentabilidade.
[i] Noah Walley and Bradley Whitehead, “It’s Not Easy Being Green”, 1994